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Ter filhos atrapalha nossa vida ?

Te convido a desmistificar essa corrente

Tenho observado a relação dos pais com as crianças, sobretudo das mães. Antes de pensarmos em dar luz ouvimos muito sobre como os filhos podem “acabar” com nossas vidas, como nunca mais vamos dormir em paz, sobre o tempo que não teremos mais e me questiono se todas essas e outras afirmações são de fato verdadeiras. Quando uma mulher jovem revela uma gestação, acham que ela estragou a vida, quando uma mulher mais velha revela uma gestação, ela é julgada e chamada de “velha demais” pra isso. Imagine uma mesma mãe que passa por essas duas situações. “Nossa, depois de tanto tempo foi ter outro filho”.

Lembro de contar aos meus amigos sobre a descoberta da minha gravidez e a primeira coisa que ouvi não foi um “parabéns” e sim um “você vai tirar, né?”.
No momento fiquei triste e não demonstrei, mas hoje entendo a percepção daquela pessoa que me fez essa pergunta. Normalizou-se uma ideia que as crianças estragam a nossa vida. E de onde vem isso?

Nós vivenciamos muitas experiências negativas envolvendo o fato de sermos mães. Vou exemplificar duas delas:

Uma mulher consegue um emprego, é muito dedicada e produtiva. Entrega bons resultados, não falta, não deixa a desejar. Um dia essa mulher engravida, pede licença maternidade. Meses depois ela volta um pouco mais cansada, amamentando, dormindo um pouco menos, obviamente, ela gerou e cuida de outra vida agora e ainda está se readaptando a uma nova realidade. Essa mulher, provavelmente, está dando 200% de si na vida. Mesmo assim, ela pode não ser a mesma de antes aos olhos do chefe que a despede. Agora ela tem um filho para criar e não tem mais um emprego. O filho acabou com a vida dela? Não. A empresa é que não estava preparada e disposta a amparar essa mãe de acordo com a nova realidade. Em alguns casos, a mulher ainda é demitida antes de voltar.

Um outro exemplo, se aplica em relação a relacionamentos.

Uma mulher está solteira, trabalha e é uma ótima mãe. Um dia conhece um cara super legal, inteligente, bem sucedido, e começam a se conhecer melhor. Até aí tudo bem, ela também tem todas as qualidades que ele procura, parece ser a mulher perfeita pra ele, até que ele descobre que ela é mãe e logo começa a se afastar. Logo aquele cara que parecia ser muito legal foi embora por não querer um compromisso de assumir uma mulher com filhos. A culpa é da mulher? Não. Em muitos casos, os homens não estão dispostos a arcar com essa responsabilidade e assumir não só um relacionamento com uma mulher, mas também tudo que ela tem na vida dela, incluindo os filhos.

Esses são apenas alguns exemplos que uma mãe passa, não por culpa dela ou dos filhos, mas sim por que a sociedade não está preparada para conviver com mães. Infelizmente, mais portas podem ser fechadas, menos amigos podem te apoiar e querer estar por perto, mas é nesse momento em que temos que observar quem escolheu estar próximo e procurar caminhos de se reinventar e aprender com isso. Se por um lado, muitos “amigos” se afastaram, existem aqueles que aprenderam amar mais ainda você e seus filhos. Se aquele cara que parecia legal se tornou um babaca e foi embora, agora você pode conhecer alguém que além de te amar vai ser um parceiro de vida. O importante é se cercar de pessoas que te amam e querem viver esse momento maravilhoso com você.

De acordo com a minha experiência, posso dizer que ser mãe só me tornou mais forte, corajosa e me ensinou a somente ter por perto pessoas que me agregam. Desde então vivemos tudo que sonhamos. Ser mãe te ensina muito e por isso é importante saber enxergar de onde vem as coisas que estão realmente atrapalhando, afinal o mundo vai nos ver e tratar de acordo como nós mesmas nos tratamos. Nós geramos vida, pessoas que vão construir o futuro e a valorização desse papel deve ser reconhecida primeiramente por nós.

Não seria um sonho termos uma sala segura e limpa para amamentação/ordenha no nosso trabalho ou na nossa faculdade? Termos um salário digno que possibilitasse o pagamento de uma creche/escola enquanto estamos fora de casa? Homens que não quisessem ser tratados como filhos, mas sim assumissem o papel de pai (quer sejam seus filhos biológicos ou não)? Seria um sonho ter uma cultura que respeita a vida e quem a gera? Pessoas que respeitem as suas crianças?

Comece hoje a amar seus filhos como eles merecem, sem culpas, sem acreditar no que te falaram sobre isso. Aposto que se você se der essa chance de refletir, vai ser que só tem motivos para agradecer. O respeito à maternidade é uma meta real para mim e mudar esse imaginário deve começar por nós. E você, também acredita nessa força sagrada da maternidade?

– por Sany Santana

Sany é arquiteta e trabalha no Tribunal Regional Federal. Mãe de primeira viagem, ao longo dos anos vem acumulando experiência em maternidade e vivência consciente como uma mulher preta. Conheça mais sobre a autora desse texto: Instagram @sany_santanna

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