Precisamos olhar para nós e reconhecermos nossa sombra e nossa luz
Há muito tempo atrás, numa aldeia distante, um valente guerreiro estava enamorado de duas irmãs gêmeas e queria casar-se com elas. Mas o pai delas não lhe daria a mão das suas filhas se ele não soubesse o nome delas.
Esse é o início do conto Manaeew, uma lenda afro-americana, que conheci no livro da Clarissa Pinkola Estés, Mulheres que correm com os lobos. É uma lenda muito interessante e inspiradora, mas não por causa de seu personagem principal e sim por falar sobre a essência da natureza feminina e sua dualidade.
As gêmeas que são mencionadas na história, segundo os estudos da autora, são, na realidade, a mesma mulher e suas variadas características, que vão mudando como a lua muda no céu durante os trinta dias de um mês. Durante o conto é contado que ambas cuidavam uma da outra e procuravam ser felizes e compreendidas, independente se pensavam igual ou se sua imagem era semelhante. Elas conviviam em harmonia dentro de sua tenda.
E aqui vai a maior lição dessa lenda: a tenda é o nosso corpo e as gêmeas são a nossa luz e a nossa sombra. Para ser mais clara a luz seria as qualidades e virtudes que você vê em você e a sombra são os defeitos e vícios que você não quer ver que tem.
Mas não desmerecendo a personagem principal desta história, Manaeew queria conhecer o nome das duas mulheres para se casar com elas, e ele não poderia ficar só com uma das duas, ele queria conhecer e casar com as duas. Mesmo sabendo de suas diferenças, valores e defeitos.
E assim também tem que ser o nosso relacionamento conosco! Precisamos olhar para nós e reconhecer nossa sombra e nossas luz, dar-lhe amor e compreensão, para então viver em harmonia. Não adianta fechar os olhos e esperar que a nossa sombra suma ou que ninguém nunca a descubra. Reconhecer sua sombra é uma forma de olhar para dentro, descobrir mais sobre você e saber lidar melhor com seu modo de pensar e de agir. A autodescoberta passa pelo momento de se despir de toda a ideia de perfeição e olhar para a nossa realidade.
É necessário abraçá-la e perceber que faz parte de quem você é, que te torna mais humana. Afinal não existe pessoas perfeitas, estamos em eterna construção e desconstruções.
– por Carolina Dias
Carolina é mulher, negra, professora de línguas da rede municipal de SP, casada, estudiosa e curiosa. Acredita na força interior do autoconhecimento e do autorreconhecimento. Conheça mais sobre o perfil da autora desse texto no Instagram:@kroljuliana